sexta-feira, 21 de maio de 2010

"Ao Deus desconhecido"

"Ao Deus desconhecido": o Areópago é aqui! (At. 17. 22, 23)




Conta-se que um rabino passou a manhã inteira em fervente oração pedindo ao Eterno que revelasse seu verdadeiro nome. Por volta do meio-dia, o Eterno decidiu revelar ao insistente rabino seu verdadeiro nome, então o mestre passou o restante do dia e a noite inteira em desesperada oração: "Ó Eterno, por favor, faça-me esquecer teu verdadeiro nome!"


Tenho a sensação de que a gritante maioria das pessoas que frequentam os templos evangélicos não faz ideia de quem é Deus, do que seja uma teologia, do que é essa tal "presença de Deus". A fraseologia do que se canta nas igrejas revela o nível terminal em que se encontra a mentalidade evangélica brasileira.

Nessa igreja da banalização, temas como: pecado, cruz, salvação, santidade, louvor, são misturados na salada da autoajuda espiritualizada, no caldeirão místico dos que perderam o foco. Troca-se conversão por adesão a um sistema religioso de facilidades e bobagens tatuadas de sagrado. Trocam-se púlpitos por palcos, onde palhaços de uma espiritualidade circense demonstram seus "talentos"de Silvio Santos da mesmice religiosa.

Cantar com a mãozinha no coração fazendo cara de santo e beicinho choroso passou a ser a coreografia mais repetida, a configuração traumática dos herdeiros das Anas Paulas Valadões da vida (não estou dizendo que ela esteja errada, mas que a experiência pessoal dela, não pode ser normativa, doutrinária, paradigmática).

Dia desses ouvi a seguinte frase num "louvor": "Estamos desesperados pela tua presença, ó Deus". Esse desespero incrivelmente desaparece nas manhãs de domingo, nas Escolas Dominicais. Some nas noites das verdadeiras vigílias (aquelas onde a oração tem lugar principal). Esse desespero simplesmente inexiste nos cultos de ensino. Os desesperados estão apenas nas carnavalizações folclóricas da fé, nas micaretas teológicas, nessa espiritualidade "baiana" das Ivetes de Gizuz.

Cansei. Prefiro os "retrógrados" hinos da Harpa Cristã e dos Hinários. Prefiro o silêncio. Essa irrtante mania de uma espiritualidade da birra existencial perdeu o rumo, a identidade e o propósito.


"Há mais restauradora alegria em cinco minutos de adoração do que em cinco noites de folia".
A. W. Tozer




Até mais...


Alan Brizotti

quinta-feira, 20 de maio de 2010

CAPA DA REVISTA VEJA PROMOVE A "NATURALIDADE DO SER GAY"



IMAGEM: Capa da Revista Veja Edição 2164 de 12/05/2010 (VEJA.com)


Altair Germano

Como já se tornou comum nos meios de comunicação no Brasil, a massificação da idéia de que ser gay é algo natural usa agora a imagem da juventude para conquistar mais simpatizantes.
Na mesma proporção, a disseminação da idéia de que quem pensa diferente é intolerante continua firme, ou seja, precisamos tolerar a opção sexual das pessoas, mas elas não podem tolerar nossas convicções religiosas.
Tolerar, não significa concordar ou aceitar como normal e verdade as idéias, comportamentos e opções sejam eles quais forem e de quem forem.
Tolerar é saber conviver e respeitar o próximo.

Retirado do blog: Genizah

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Deus demais é idolatria.

Deus demais é idolatria !







"Deixemos o céu aos anjos e aos pardais" (Heine, Deutschland, caput I).


Fundo do poço à vista! Perdeu-se o respeito por Deus. Deus tem se tornado uma espécie de tragédia otimista do brasileiro. É a desculpa dos que não querem mudar. Camuflados sob o tal de "sentir o que o coração de Deus sente", a igreja sente de tudo, menos vergonha. Estão transformando Deus numa espécie de "gênio da garrafa", aquele que satisfaz meus três mediocres desejos, e depois é devolvido à solidão da garrafa.

Deus tem se transformado numa marca de alta rentabilidade. Seu nome circula por todos os lados: de adesivos risíveis (a velha "criatividade" duvidosa dos marqueteiros cristãos), a placas pífias de igrejas, Deus está em todas! (Será?).

O termo "Deus" tem se tornado um ornamento verbal. Com isso, o estelionato dos conteúdos segue firme. Eugene Peterson escreveu: "Quando reduzimos Deus a um nome entre outros, mais cedo ou mais tarde, todos os outros nomes se tornam despersonalizados, meras cifras empregadas para identificar outros de acordo com sua função ou papel, sem levar em consideração a dignidade e a reverência inerentes a cada pessoa e a cada coisa".


É a mania estranha de usar o nome de Deus para nomear o inominável. E não importa qual nome: Deus, Jesus ou Espírito Santo, o que interessa é associá-lo ao sucesso da teologia em questão. Juan Árias, jornalista e escritor, em seu livro "Jesus, esse desconhecido", diz: "Só em um lugar vi escrito com grandes letras, com tinta negra, o nome de Jesus, onde ele provavelmente se teria sentido à vontade. Onde possivelmente seu nome não estava escrito em vão. Vi-o numa rua do Rio escrito em uma caixa de madeira que um menino sem casa e sem família levava na mão com uma escova velha e um pouco de graxa, tentando convencer os transeuntes de que o deixassem limpar os sapatos". Heresia?

O mandamento de Deusteronômio 5. 8-10 diz sobre não fazer imagens de escultura. A igreja evangélica não faz as imagens - não no templo - mas faz na mente e na alma! O problema é que, secretamente, gostamos dos ídolos, porque alimentamos uma oculta ilusão de controle. A adoração dos ídolos sempre foi o jogo religioso predileto. Sem falar que nossos ídolos - de carne e osso - com os bolsos cheios das ofertas astronômicas, são piores e mais perigosos que as imagens.


Chega de tanto Deus! Ouso pedir silêncio! Essa banalização do sagrado precisa parar. Hé Deus demais e caráter de menos. Deus demais e absurdos demais. Enquanto essa teologia canalha continuar solta, de tanto falar em Deus, acabamos nos demonizando. Paradoxal não? "Deus" demais revelando demônios ocultos. Gritamos sobre uma presença de Deus, mas será que sentimos a dor de sua ausência?


Deus demais é idolatria. Diabo demais é fetiche. Crente demais é fanatismo. Bendito seja o equilíbrio!


Até mais...





Alan Brizotti
Minha declaração de (não) fé





Resolvi fazer uma lista de coisas nas quais não creio, uma espécie de não-credo, de declaração de falta de fé, ausência total de comprometimento com as tais, são elas:


Não creio na fé sem amor: não é fé, mas apenas discurso religioso adoecedor.

Não creio na teologia sem amor: não é teologia, mas apenas acúmulo de informação religiosa neurotizante.

Não creio na igreja sem amor: não é igreja, mas apenas ajuntamento de pessoas sob a pseudo aura do "sagrado".

Não creio no ministério sem amor: não é ministério, mas apenas serviço burocrático de indivíduos com mania de divindade exibicionista.

Não creio nas profetadas e suas bizarrices batizadas de "santidade": não são profecias, mas apenas o ridículo disfarçado de unção.

Não creio nas bênçãos dos profetas da prosperidade: não são bênçãos, porque só quem abençoa é Deus e Ele não compra minha fé.

Não creio nas maldições dos profetas da Al Qaeda divina: não são maldições, são apenas um revanchismo sagrado movido a vingancinhas medíocres.

Não creio em qualquer um...

Não creio em milagre todo dia: milagre não é rotina, se assim for já não é milagre.

Não creio em gente que cai no "espírito" mas não consegue andar no Espírito.

Não creio em línguas esquisitas quando a mesma língua ainda não foi transformada pelo Espírito da Palavra.

Não creio em "massagens de púlpito", mas em Mensagens do céu!

Não creio em encontros de casais erotizados e vulgares, produtos envergonhados de uma importação da mídia em sua sensualidade abusiva, prefiro encontros de casais que promovam o redescobrir do encanto...

Não creio numa série de outras coisas... mas como dizia Kierkegaard, "Com a ajuda do espinho em meu pé, salto muito mais alto".


Até mais...





Alan Brizotti

Testemunhando de Deus até na morte.

Pastores presos nas ferragens de acidente louvam à Deus com hinos e levam os bombeiros às lagrimas.






Dois pastores evangélicos e um motociclista morreram num acidente envolvendo sete veículos, na manhã de ontem (24/02/2010), na Rodovia do Contorno, trecho da BR 101 que liga Serra a Cariacica na região metropolitana de Vitória, no Espirito Santo.

Os religiosos pertenciam à Igreja Assembleia de Deus e haviam saído de Alegre, município da Região Sul do Estado, rumo a uma convenção estadual da igreja em Nova Carapina II, na Serra.


Os veículos - cinco caminhões, uma moto e um automóvel Del Rey - bateram um atrás do outro. O engavetamento aconteceu às 8h15, no quilômetro 277, na Serra. Os pastores estavam no carro.


Tudo começou quando um caminhão freou por causa do intenso fluxo de carros no sentido Cariacica - Serra. Os veículos que vinham atrás dele frearam também, mas o último caminhão - de uma empresa de cerveja - não conseguiu parar a tempo. Com isso, os veículos que estavam à frente foram imprensados uns contra os outros.

Os pastores José Valadão de Souza e Nelson Palmeira dos Santos e o motociclista Jonas Pereira da Silva, 52 anos, morreram no local. Dois outros pastores, que também estavam no Del Rey, sobreviveram, e o motorista de um dos caminhões sofreu arranhões nas pernas. Nenhum dos outros caminhoneiros ficou ferido.

O proprietário e condutor do Del Rey é o pastor Dimas Cypriano, 61 anos, do município de Alegre. Ele saiu ileso do acidente e teve ajuda do motorista José Carlos Roberto, carona de um dos caminhões, para sair do veículo.


Seu amigo de infância, o pastor Benedito Bispo, 72, ficou preso às ferragens. Socorristas do Serviço Médico de Atendimento de Urgência (Samu) e bombeiros fizeram o resgate dele. O pastor teve politraumatismo e foi levado para o Hospital Dório Silva, na Serra.


A mulher de Benedito chegou a ver o marido sendo socorrido e teve que ser amparada por um familiar. Ela também seguia para a convenção num outro veículo. A rodovia ficou interditada durante vários momentos da manhã de ontem nos dois sentidos. O trecho só foi totalmente liberado no início da tarde.
O pastor Dimas Cypriano, que sobreviveu ileso ao acidente na manhã de ontem, no Contorno, contou que usava cinto de segurança e que ficou preso ao tentar sair. Ele dirigia o Del Rey e disse que precisou de ajuda para sair do carro. Mas depois continuou no local, acompanhando os trabalhos de resgate do colega, Benedito Bispo. Nas mãos, levava uma Bíblia que ficou suja de sangue. Mas isso não impediu que o pastor orasse durante o socorro.
O mais comovente do triste episódio, foi o relato dado pelos dois pastores sobreviventes, populares e pelos bombeiros que tentavam tirar os pastores, ainda com vida, presos às ferragens.


As testemunhas citadas, contam que os pastores Nelson Palmeiras e João Valadão, presos nas ferragens, em meio a um mar de sangue que os envolvia, começaram a cantar o Hino 187 da harpa cristã:





Mais perto


Quero estar meu Deus de ti!


Ainda que seja a dor


Que me una a ti,


Sempre hei de suplicar


Mais perto


Quero estar meu Deus de ti!






Andando triste


Aqui na solidão


Paz e descanso


A mim teus braços dão


Nas trevas vou sonhar


Mais perto


Quero estar meu Deus de ti!






Minh'alma cantará a ti Senhor!


E em Betel alçará padrão de


Amor,


Eu sempre hei de rogar


Mais perto


Quero estar meu Deus de ti!






E quando Cristo,


Enfim, me vier chamar,


Nos céus, com serafins irei


Morar


Então me alegrarei


Perto de ti, meu Rei, meu Rei,


Meu Deus de ti!




Aos poucos suas vozes foram se silenciando para sempre.




As lágrimas tomaram conta dos bombeiros, acostumados a resgatar pessoas em acidentes graves, porem jamais viram alguem morrer cantando um hino; como foi o caso dos pastores Nelson Palmeiras e João Valadão.

Retirado do blog: genizah

Igrejas para todos os gostos

Igrejas para todos os gostos



Fenômeno do crescimento evangélico no país dissemina a Palavra de Deus.



Qualquer pessoa que ande pelas ruas das grandes cidades brasileiras há de ficar impressionado com a quantidade de igrejas evangélicas. São templos, pontos de pregação, salas e até portinhas, onde o nome de Jesus é exaltado e o povo de Deus reúne-se para exercer a sua fé. Símbolo da expansão do segmento evangélico na sociedade brasileira, a proliferação de igrejas, se por um lado possibilita a disseminação da Palavra de Deus, por outro, gera situações curiosas. Há ruas com vários templos e até mesmo congregações que funcionam coladas parede a parede. Agora, engraçado mesmo – com todo respeito, claro! – é conferir o nome de algumas igrejas. Existe, por exemplo, uma certa Assembléia de Deus Com Doutrinas e Sem Costumes, no subúrbio do Rio de Janeiro. No interior de Minas, funciona a Igreja Evangélica A Última Trombeta Soará. Isso sem falar na Igreja Cuspe de Cristo, em São Paulo.


Pode-se discutir o gosto de quem inventa tais nomes, mas o fato é que os aproximadamente 26 milhões de evangélicos brasileiros têm à disposição um variadíssimo cardápio de opções para filiação religiosa. Curiosos, bizarros e imaginativos, os nomes de igrejas, digamos, originais, compõem uma extensa lista: há, por exemplo, a Igreja Pentecostal Alarido de Deus, de Anápolis (GO), cujos cultos não devem ser nada silenciosos; a Igreja Evangélica Deus Pentecostal da Profecia, de São Mateus (ES), que não deixa dúvidas sobre o caráter avivado do povo que se reúne ali; ou ainda a Igreja Evangélica Vida Profunda, da Itaperuna (RJ), onde o crente, já na entrada, recebe um estímulo para deixar de lado a superficialidade na sua relação com Deus. Já a Igreja da Revelação Rápida parece ter sido feita de encomenda para os fiéis mais apressadinhos. Há ainda muitas outras (ver quadro), quase sempre pequenas denominações pentecostais dirigidas por líderes leigos, onde o que vale é a espontaneidade litúrgica e uma boa dose de improvisação.


Mais do que simples tendência, a proliferação das igrejas evangélicas, há alguns anos, já chama a atenção como fenômeno sociológico. Nos anos 90, o Instituto Superior de Estudos da Religião (Iser) debruçou-se sobre os números e chegou a uma conclusão de espantar: só no Grande Rio, cinco novas igrejas surgiam... por semana! E as coisas só aumentaram de lá para cá. Números confiáveis não existem, mas levantamentos realizados por entidades missionárias apontam para a existência de cerca de 150 mil templos e casas de culto evangélicas no país. “Hoje, há uma média de 1,5 mil pessoas por igreja no Brasil”, diz o pesquisador Louranço Kraft, do Serviço para a Evangelização da América Latina (Sepal). Claro, elas concentram-se nos centros urbanos. Em regiões como a Amazônia ou o interior do Nordeste, a presença evangélica permanece extremamente rarefeita. Razões para tanto crescimento não faltam – além do evangelismo ostensivo, responsável por novas conversões, as igrejas evangélicas costumam receber muitos ex-fiéis de outras confissões, como o catolicismo e o espiritismo.


Há ainda outro aspecto – a ruptura com antigos dogmas, como restrições quanto a usos e costumes e normas rígidas de vestuário. “Os evangélicos aboliram a vida ascética que antes preconizavam”, avalia o doutor em sociologia Ricardo Mariano, autor do livro Neopentecostais – Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil (Edições Loyola). Segundo ele, os crentes, cada vez mais adaptados à sociedade, conseguem fazer seu discurso penetrar com mais facilidade, atraindo novos adeptos até mesmo em setores das classes média e alta, tradicionalmente mais avessos à mensagem do Evangelho.


Bem menos acadêmico, mas igualmente sintomático, é o estudo desenvolvido por Orlando Corrêa Neves Castor, 17 anos, estudante de tradições e cultos religiosos. Ele, que mora em Teresópolis (RJ), criou um site sobregrejas com nomes curiosos (www.igrejologia.hpg.ig.com.br). Evangélico, o rapaz conta que a idéia de elaborar a página virtual veio depois de ver tantos nomes diferentes de igrejas. “Comecei o trabalho procurando em listas telefônicas de vários estados”, conta. “Depois, muitas pessoas se interessaram e começaram a mandar colaborações para a lista. Alguns nomes adotados são bem exóticos.”


“Sede mundial” – Segundo Orlando, a maioria das igrejas com este perfil tem localização restrita, ao contrário das denominações mais antigas e tradicionais, como Metodista, Quadrangular ou Luterana, cuja abrangência é nacional. “Noventa por cento delas funcionam em pequenos imóveis alugados, em bairros pobres”, comenta o estudante. No meio do bolo, há uma proliferação desenfreada de congregações evangélicas, muitas delas funcionando sem alvará e à margem de outras exigências legais. “Além disso, a falta de cultura e informação de seus criadores é patente”, aponta. Como exemplo, ele cita uma certa Igreja Evangélica Muçulmana Javé É Pai, e outra, tão bizarra quanto: Igreja Cristã Evangélica Espírita Nacional. “Nos dois nomes há união de religiões que não se relacionam entre si. Como um evangélico pode ser muçulmano ou espírita ao mesmo tempo?”, indaga.


Orlando não esconde que o objetivo do bem humorado levantamento que fez é, também, “criticar abusos praticados em nome da fé das pessoas”. Há pouco tempo, o jornal carioca Balcão, especializado em classificados de todo tipo – ali vende-se varas de pesca, violoncelos, apartamentos, coleção de gibis do Homem-Aranha e tudo o que se possa imaginar –, publicou um anúncio esquisitíssimo. Anunciava-se a oferta de uma igreja evangélica, equipada com som e móveis e que tinha “cerca de 200 membros”, que talvez jamais imaginassem virar objeto de uma transação do gênero. O problema é que fica muito difícil separar o trigo, ou seja, aqueles crentes sérios cujo objetivo ao abrir uma igreja é simplesmente atender um chamado divino e fazer a obra do Senhor, do joio – no caso, os picaretas que vêem a criação de uma congregação apenas como opção de negócio.


A multiplicação de igrejas só acontece porque, no Brasil, é muito fácil abri-las. É o que diz Rubens Moraes, 71, pastor da Assembléia de Deus de Madureira, no Rio. Ele também é contador e trabalha há quase 40 anos na área de legalização de entidades evangélicas. “Para se abrir uma igreja, não é necessário muita coisa”, explica. “Junta-se uma diretoria composta por oito pessoas; depois convoca-se uma reunião para emitir a ata de fundação. A partir daí, basta elaborar o estatuto e registrá-lo no cartório”, ensina. Com este registro, é possível solicitar o cartão do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, o CNPJ, o que pode ser feito até pela internet.


Segundo Rubens, todo o processo é baratíssimo. “Se o próprio interessado quiser fazer tudo, vai desembolsar cerca de R$ 250. Caso prefira contratar um contador, o gasto fica entre 600 e mil reais.” Isso, claro, se o empreendedor não preferir fazer tudo clandestinamente e atuar ao arrepio da lei. Especialista no assunto – ele é autor do livro Legislação para igrejas e entidades sem fins lucrativos, editado pela CPAD –, Rubens Moraes admite que não há como exercer controle sobre quem resolve criar uma igreja. “A lei permite a abertura por qualquer pessoa, mas não pode avaliar os interesses e a seriedade de cada um. Isso abre oportunidades para os aventureiros.” Ele conta que foi procurado recentemente por uma empresária que decidiu colocar uma igreja em seu nome. “Ela construiu, com o seu dinheiro, a comunidade. Apesar de não ser pastora nem nada, ela tem direito de tornar-se presidente da obra.”


Outra estratégia muito utilizada, até mesmo em busca de legitimidade, é a inclusão do nome de uma denominação já conhecida. É grande a quantidade de comunidades independentes que adotam, por exemplo, nomes como “Assembléia de Deus de tal-tal-tal, ou “Igreja Batista disso-ou-daquilo”, mesmo sem ter quaisquer vínculos com as convenções batistas ou assembleianas estabelecidas. “Este tipo de procedimento nos incomoda bastante, inclusive porque não temos qualquer controle sobre a doutrina ou liturgia praticada nestas igrejas”, comenta um pastor ligado à Convenção Batista Fluminense que, para evitar constrangimentos de parte a parte, pediu para não ser identificado.


Ele diz que a entidade já teve problemas com isso – segundo o pastor, houve casos, por exemplo, de fiéis dessas igrejas de linha independente buscarem algum tipo de satisfação por desvios de conduta de seus líderes. “A marca ‘Igreja Batista’ é respeitada até mesmo fora dos meios evangélicos. Então, há pessoas que se aproveitam disso e usam o nome de nossa denominação para passar credibilidade.” Interessante, também, é a megalomania encerrada em nomes grandiloqüentes, tais como “sede mundial” ou “ministério internacional”. Às vezes, igrejinhas que possuem um único templo ostentam, orgulhosas, placas com tais dizeres. Isso quando o nome do mandachuva não aparece em letras garrafais, às vezes, maiores até do que os nomes “Deus” ou “Jesus”.


Bacalhau com feijoada – O professor Paulo Donizéti Siepierski, 43 anos, crente batista de Recife (PE) e membro da Associação Brasileira de História das Religiões, aponta noutra direção. Para ele, a criatividade dos nomes é fundamental para o sucesso do empreendimento. “A concorrência no ‘mercado religioso’ tornou-se bastante acirrada nos últimos anos. Então, a necessidade de se diferenciar neste ‘mercado’ passou a ser imperativa”, explica. Paralelamente, salienta o estudioso, ocorreu uma crise de fidelidade no denominacionalismo. “Uma vez que as pessoas não estão mais buscando respostas convencionais, como as que as igrejas históricas oferecem em suas confissões de fé, mas ao contrário, estão atrás de uam espécie de bricolagem, passou a ser natural que os próprios nomes das novas igrejas simbolizassem tal possibilidade.”


Irônico, o professor usa como comparação os restaurantes de comida a quilo. “No restaurante tradicional, você recebe um cardápio com pratos já montados; no de refeições por quilo, o cliente é quem escolhe a combinação de alimentos, por mais contraditório que possam parecer. Dá até para misturar bacalhau com feijoada.” Sipierski vai além: para ele, a sobrevivência da nova igreja dependerá em grande parte da capacidade em expressar, através de seu nome, aquilo que ela pensa ser sua vantagem comparativa em relação à concorrência. “Precisamos entender que as pessoas não estão em busca de uma doutrina supostamente correta. Hoje, muitos buscam solução para seus problemas e um lugar onde se sintam bem.”


“Tanta criatividade não é bom sinal”, faz coro o historiador Jaime Francisco de Moura, 42, de Brazilândia (DF). Católico, ele é autor do livro As diferenças entre a Igreja Católica e igrejas evangélicas e bate pesado: “Muitas dessas igrejas com nomes fantásticos e chamativos prejudicam o cristianismo”, radicaliza. Para Moura – que, como muitos católicos e o próprio papa, insistem em chamar correntes pentecostais de “seitas” –, o crescimento destas novas denoninações tende a aumentar. “A Palavra de Deus é sagrada e não pode estar na boca de qualquer indivíduo. É preciso haver autoridades competentes para proclamar o Evangelho. Muitos acham que são iluminados pelo Espírito Santo, mas no fundo são movidos pelo erro e pelo engano”, reclama. Na opinião do historiador, qualquer pessoa que pretenda assumir um cargo de dirigente espiritual deveria ter, no mínimo, curso de teologia ou filosofia. Por mais que seja desejável estabelecer critérios deste tipo, contudo, não se deve esquecer que a história do cristianismo está cheia de líderes leigos que fizeram um tremendo trabalho espiritual, a começar pelos próprios discípulos de Jesus – os quais, segundo seus contemporâneos, eram homens “iletrados e incultos”, mas foi através deles que a a fé cristã chegou até nós. Isso sem falar na explosão evangélica verificada no Brasil na segunda metade do século 20, protagonizada, quase sempre, por pastores sem qualquer formação teológica. E não é apenas no protestantismo que o laicato tem destaque. Nas comunidades eclesiais de base, berço da renovação do catolicismo durante os anos 60 e 70, destacavam-se os líderes leigos.


Revelação de Deus – Na outra ponta, pastores que dirigem comunidades que poderiam entrar em qualquer levantamento sobre denominações curiosas, demonstram não apenas convicção espiritual, como também, muita consciência de seu papel. Caso do pastor José Basílio dos Reis, 55 anos, responsável pela Igreja Assembléia dos Primogênitos, de São Paulo. Ele explica que a denominação surgiu devido a uma revelação divina, e admite que ter um nome diferente atrai algumas pessoas para a congregação. “Muitos chegam movidos pela curiosidade, e acabam tendo um encontro com Cristo”, salienta. Contudo, o pastor exorta que, antes de se filiar a qualquer igreja, é fundamental que o aspirante a membro observe suas normas, conheça os líderes e, acima de tudo, peça a orientação do Senhor. “Hoje, há muita gente criando igrejas apenas para arrecadar dinheiro. Isso é um escândalo”, indigna-se.


Para o pastor Mizael Lima de Souza, presidente da Igreja Universal Assembléia dos Santos, com sede em São Paulo, mais importante do que o nome é a valorização do Evangelho e uma conduta justa e transparente que possa dar exemplo à sociedade. “Quando vamos evangelizar, muita gente pergunta se nossa igreja é uma mistura da Universal [do Reino de Deus] com a Assembléia [de Deus], e eu explico que não”, diz ele. O pastor conta que o nome surgiu de uma revelação divina a uma senhora crente há 45 anos – bem antes, portanto, do surgimento da Igreja Universal, a do bispo Edir Macedo, fundada em 1977. “Essa irmã era professora da Escola Bíblica e certo dia foi orar, pois via que sua igreja não obedecia certos preceitos bíblicos. Então, o Senhor disse a ela que o seguisse, pois iria usá-la para levantar uma obra à semelhança da Igreja Primitiva”. Mizael explica que o nome de sua denoninação é baseado nas passagens bíblicas de Hebreus 12:22 e Salmo 89:5. “Mas o que caracteriza mesmo a Igreja do Senhor é se ela tem ou não compromisso com Deus”, conclui. (Colaboraram Marcelo Santos e Marcos Stefano)






Curiosos e criativos






Algumas igrejas e comunidades evangélicas têm nomes que misturam citações bíblicas, fervor espiritual e uma boa dose de criatividade. Confira:






Igreja da Água Abençoada


Igreja Adventista da Sétima Reforma Divina


Igreja da Bênção Mundial Fogo de Poder


Congregação Anti-Blasfêmias


Igreja Chave do Éden


Igreja Evangélica de Abominação à Vida Torta


Igreja Batista Incêndio de Bênçãos


Igreja Batista Ô Glória!


Congregação Passo para o Futuro


Igreja Explosão da Fé


Igreja Pedra Viva


Comunidade do Coração Reciclado


Igreja Evangélica Missão Celestial Pentecostal


Cruzada de Emoções


Igreja C.R.B. (Cortina Repleta de Bênçãos)


Congregação Plena Paz Amando a Todos


Igreja A Fé de Gideão


Igreja Aceita a Jesus


Igreja Pentecostal Jesus Nasceu em Belém


Igreja Evangélica Pentecostal Labareda de Fogo


Congregação J. A. T. (Jesus Ama a Todos)


Igreja Barco da Salvação


Igreja Evangélica Pentecostal a Última Embarcação Para Cristo


Igreja Pentecostal Uma Porta para a Salvação


Comunidade Arqueiros de Cristo


Igreja Automotiva do Fogo Sagrado


Igreja Batista A Paz do Senhor e Anti-Globo


Assembléia de Deus do Pai, do Filho e do Espírito Santo


Igreja Palma da Mão de Cristo


Igreja Menina dos Olhos de Deus


Igreja Pentecostal Vale de Bênçãos


Associação Evangélica Fiel Até Debaixo D’Água


Igreja Batista Ponte para o Céu


Igreja Pentecostal do Fogo Azul


Comunidade Evangélica Shalom Adonai, Cristo!


Igreja da Cruz Erguida para o Bem das Almas


Cruzada Evangélica do Pastor Waldevino Coelho, a Sumidade


Igreja Filho do Varão


Igreja da Oração Eficiente


Igreja da Pomba Branca


Igreja Socorista Evangélica


Igreja ‘A’ de Amor


Cruzada do Poder Pleno e Misterioso


Igreja do Amor Maior que Outra Força


Igreja Dekanthalabassi


Igreja dos Bons Artifícios


Igreja Cristo é Show


Igreja dos Habitantes de Dabir


Igreja ‘Eu Sou a Porta’


Cruzada Evangélica do Ministério de Jeová, Deus do Fogo


Igreja da Bênção Mundial


Igreja das Sete Trombetas do Apocalipse


Igreja Pentecostal do Pastor Sassá


Igreja Sinais e Prodígios


Igreja de Deus da Profecia no Brasil e América do Sul


Igreja do Manto Branco


Igreja Caverna de Adulão


Igreja Este Brasil é Adventista


Igreja E.T.Q.B (Eu Também Quero a Bênção)


Igreja Evangélica Florzinha de Jesus


Igreja Cenáculo de Oração Jesus Está Voltando


Ministério Eis-me Aqui


Igreja Evangélica Pentecostal Creio Eu na Bíblia


Igreja Evangélica A Última Trombeta Soará


Igreja de Deus Assembléia dos Anciãos


Igreja Evangélica Facho de Luz


Igreja Batista Renovada Lugar Forte


Igreja Atual dos Últimos Dias


Igreja Jesus Está Voltando, Prepara-te


Ministério Apascenta as Minhas Ovelhas


Igreja Evangélica Bola de Neve


Igreja Evangélica Adão é o Homem


Igreja Evangélica Batista Barranco Sagrado


Ministério Maravilhas de Deus


Igreja Evangélica Fonte de Milagres


Comunidade Porta das Ovelhas


Igreja Pentecostal Jesus Vem, Você Fica


Igreja Evangélica Pentecostal Cuspe de Cristo


Igreja Evangélica Luz no Escuro


Igreja Evangélica O Senhor Vem no Fim


Igreja Pentecostal Planeta Cristo


Igreja Evangélica dos Hinos Maravilhosos


Igreja Evangélica Pentecostal da Bênção Ininterrupta




Luciana Mazzarelli e Carlos Fernandes

NÃO TOQUEIS NOS MEUS UNGIDOS.

Não toqueis nos meus ungidos.





A frase bíblica “Não toqueis nos meus ungidos” (Sl 105.15) tem sido empregada para os mais variados fins. Maus obreiros e falsos profetas se valem dela para ameaçar seus críticos; crentes mal-orientados usam-na para defender certos “ungidos”; e outros ainda a empregam para reforçar a idéia de que não cabe aos servos de Deus julgar ou criticar heresias e práticas antibíblicas.


Quando examinamos o contexto da frase acima, vemos que ela está longe de ser uma regra geral. Uma leitura atenta do Salmo 105 não nos deixa em dúvida: os ungidos mencionados são os patriarcas Abraão, Isaque, Jacó (Israel) e José (vv.9-17). Ademais, o título “ungido do Senhor” refere-se tipicamente, no Antigo Testamento, aos reis de Israel (1 Rs 12.3-5; 24.6-10; 26.9-23; Sl 20.6; Lm 4.20) e aos patriarcas, em geral (1 Cr 16.15-22).


Conquanto a frase não encerre um princípio geral, podemos, por analogia, afirmar que Deus, na atualidade, protege os seus ungidos assim como cuidou dos seus servos mencionados no Salmo 105. Mesmo assim, não devemos presumir que todas as pessoas que se dizem ungidas de fato o sejam. Lembre-se do que o Senhor Jesus disse acerca dos “ungidos”: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7.21).


É claro que a Bíblia apóia e esposa o pensamento de que o Senhor cuida dos seus servos e os protege (1 Pe 5.7; Sl 34.7). Mas isso se aplica aos que verdadeiramente são ungidos, e não aos que parecem, pensam ou dizem sê-lo (Mt 23.25-28; Ap 3.1; 2.20-22). Afinal, “O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade” (2 Tm 2.19).


Quando Paulo andou na terra, havia muitos “ungidos” ou que aparentavam ter a unção de Deus (2 Co 11.1-15; Tt 1.1-16). O imitador de Cristo nunca se impressionou com a aparência deles (Cl 2.18,23). Por isso, afirmou: “E, quanto àqueles que pareciam ser alguma coisa (quais tenham sido noutro tempo, não se me dá; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que pareciam ser alguma coisa, nada me comunicaram” (Gl 2.6).


Aparência, popularidade, eloqüência, títulos, status, anos de ministério... Nada disso denota que alguém esteja sob a unção de Deus e imune à contestação à luz da Palavra de Deus. Muitos enganadores, ao serem questionados quanto às suas pregações e práticas antibíblicas, têm citado a frase em análise, além do episódio em que Davi não quis tocar no desviado rei Saul, que fora ungido pelo Senhor (1 Sm 24.1-6). Mas a atitude de Davi não denota que ele tenha aprovado as más obras daquele monarca.
Se alguém, à semelhança de Saul, foi um dia ungido por Deus, não cabe a nós matá-lo espiritualmente, condená-lo ao Inferno. Entretanto, isso não significa que devamos silenciar ou concordar com todos os seus desvios do evangelho (Fp 1.16; Tt 1.10,11). O próprio Jônatas reconheceu que seu pai turbara a terra; e, por essa razão, descumpriu, acertadamente, as suas ordens (1 Sm 14.24-29).

O texto de Salmos 105.15 em nenhum sentido proíbe o juízo de valor, o questionamento, o exame, a crítica, a análise bíblica de ensinamentos e práticas de líderes, pregadores, milagreiros, cantores, etc. Até porque o sentido de “toqueis” e “maltrateis” é exclusivamente quanto à inflição de dano físico.

É curioso como certos “ungidos”, ao mesmo tempo que citam o aludido bordão em sua defesa — quando as suas práticas e pregações são questionadas —, partem para o ataque, fazendo todo tipo de ameaças. O show-man Benny Hinn, por exemplo, verberou: “Vocês estão me atacando no rádio todas as noites — vocês pagarão e suas crianças também. Ouçam isto dos lábios dum servo de Deus. Vocês estão em perigo. Arrependam-se! Ou o Deus Altíssimo moverá sua mão. Não toqueis nos meus ungidos...” (citado em Cristianismo em Crise, CPAD, p.376).


Quem são os verdadeiros ungidos, os quais, mesmo não se valendo da frase citada, têm de fato a proteção divina, até que cumpram a sua vontade? São os representantes de Deus que, tendo recebido a unção do Santo (1 Jo 2.20-27), preservam a pureza de caráter e a sã doutrina (Tt 1.7-9; 2.7,8; 2 Co 4.2; 1 Tm 6.3,4). Quem não passa no teste bíblico do caráter e da doutrina está, sim, sujeito a críticas e questionamentos (1 Tm 4.12,16).


Infelizmente, muitos líderes, pregadores, cantores e crentes em geral, considerando-se ungidos ou profetas, escondem-se atrás do bordão em análise e cometem todo tipo de pecado, além de torcerem a Palavra de Deus. Caso não se arrependam, serão réus naquele grande Dia! Os seus fabulosos currículos — “profetizamos”, “expulsamos”, “fizemos” — não os livrarão do juízo (Mt 7.21-23).

Portanto, que jamais aceitemos passivamente as heresias de perdição propagadas por pseudo-ungidos, que insistem em permanecer no erro (At 20.29; 2 Pe 2.1; 1 Tm 1.3,4; 4.16; 2 Tm 1.13,14; Tt 1.9; 2.1). Mas respeitemos os verdadeiros ungidos (Hb 13.17), que amam o Senhor e sua Santa Palavra, os quais são dádivas à sua Igreja (Ef 4.11-16).


Quanto aos que, diante do exposto, preferirem continuar dizendo — presunçosamente e sem nenhuma reflexão — “Não toqueis nos meus ungidos”, dedico-lhes outro enunciado bíblico: “Não ultrapasseis o que está escrito” (1 Co 4.6, ARA). Caso queiram aplicar a si mesmos a primeira frase, que cumpram antes a segunda!





Ciro Sanches Zibordi
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