quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Imagens que abalam.

Imagens que abalam








Em 1994, o prémio Pulitzer de Fotojornalismo foi ganho com esta fotografia chocante de uma criança sudanesa, que viria a atrair as atenções do Mundo para o drama humanitário que se vivia, e ainda vive, no Sudão e um pouco por todo o Continente Africano. Campo de ensaio do mundo dito civilizado que tenta há séculos arrogantemente impôr modelos de organização social, política e económica baseados nos seus conceitos civilizacionais, a África permanece um continente tribal, sem que contudo os "civilizadores" alguma vez tenham descurado a sua recompensa para o "magnânimo gesto", quase renascentista, de "espalhar a fé e a democracia pelos cafres": o saque.


O fotógrafo sul-africano Kevin Carter foi o autor desta fotografia obtida em 1933 em Ayod, um pequeno distrito do estado de Junqali, Sudão, que percorreu o Mundo inteiro: a figura esquelética de uma pequena menina, totalmente desnutrida, vergando-se sobre a terra, esgotada pela fome, prestes a morrer, arrastando-se para um campo alimentar da ONU que distava um quilómetro dali, enquanto em segundo plano a figura negra e expectante de um abutre aguarda a morte da garota.


Carter disse que esperou cerca de vinte minutos para que o abutre se fosse embora e, como tal não sucedia, rapidamente tirou a foto, espantou o abutre açoitando-o, e abandonou o local o mais rápido possível.


Muitas vozes se levantaram na época contra a atitude de Carter, comparando-o de certa forma ao abutre e questionando-o porque não tinha ajudado a criança. Embora na altura os fotógrafos tivessem um código de conduta rígido que implicava, neste tipo de cenários, nunca se abeirarem das pessoas famintas pela possibilidade de transmissão de doenças, Kevin confessou estar arrependido por não ter ajudado a menina.


Carter era um dos integrantes do chamado Bang-Bang Club, um grupo de quatro amigos, fotojornalistas, que se dedicaram a expôr aos olhos do mundo o brutal regime do apartheid sul-africano. Em meados dos anos 80 Carter foi o primeiro a fotografar uma execução pública por necklacing na África do Sul, e ao longo da sua carreira vivenciou incontáveis episódios de violência em teatros de guerra e de desastre humanitário.

Dois meses depois de ter recebido por esta imagem o Pulitzer Prize for Feature Photography de 1994, amargurado e castigado pela culpa, psiquicamente instável, dependente de estupefacientes e destroçado pela morte de um dos seus amigos íntimos e elemento do Bang-Bang Club, Ken Oosterbroek , Kevin Carter suicidou-se. Tinha 33 anos e deixou esta nota de despedida:
"I am depressed ... without phone ... money for rent ... money for child support ... money for debts ... money!!! ... I am haunted by the vivid memories of killings & corpses & anger & pain ... of starving or wounded children, of trigger-happy madmen, often police, of killer executioners...I have gone to join Ken if I am that lucky."
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